em Belo Horizonte, oriundo da turma original que se reunia desde muito antes, na garagem da casa dos irmãos Venturini, atrás do grupo Escolar Pedro II, na avenida Pasteur. Era a Pensão da Dona Dalila.
No vizinho bairro de Santa Tereza, Lô também crescia em meio ao ambiente de ensaios e música ao vivo que se formara lá em casa, em torno de mim, Marilton, Bituca e nossos agregados. Pianos, violões, contrabaixos, flautas, percussões e panelas amassadas, bem como canetas e cadernos, faziam parte do cotidiano daquele bando de irmãos musicais, arruaceiros e boêmios, os filhos de Salim e Maricota, pai e mãe dos Borges. Nada diferente da garagem de Dona Dalila, portanto.
Pois bem. Quando chegou 1979, ano da formação oficial do grupo, aqueles meninos já tinham rodado altas quilometragens antes de se juntarem para formar o 14 Bis.
Cláudio, o Venturini caçula, virtuoso guitarrista, já tinha gravado o “disco do tênis” com o Lô Borges e o acompanhava em shows. Flávio já havia participado de discos do Milton e estrelava o antológico grupo O Terço, com os Sérgios, Magrão e Hinds.
Patrono da ideia, veio para o 14 Bis e trouxe o carioca Magrão consigo.
Vermelho e Hely Rodrigues tocavam no grupo Bendegó, que contava ainda com Capenga, Gereba e Patinhas (que viria a ser o poderoso publicitário João Santana). Convidados por Flávio, subiram a bordo.
Os cinco, quatro mineiros e um carioca, incorporaram o 14 Bis com entusiasmo. E alçaram voo, levando seu aeroplano aos céus do Brasil.
Assim, os jovens partiram para a gravação de seu primeiro long-playing, em 1979, intitulado simplesmente 14 Bis.
Bituca, prova viva do sucesso daquela filosofia empresarial, não só avalizou a moçada do 14 Bis perante a diretoria executiva da EMI-Odeon, como produziu o disco e ainda deu-lhes de presente a obra-prima dele e de Fernando Brant, Canção da América, que é até hoje, tanto tempo depois, um dos principais hits do grupo.
No ano seguinte, 1980, eles lançaram um disco altamente conceitual, na minha opinião, a obra-prima deles, o 14 Bis II. Neste disco havia canções excepcionais como a então inédita Caçador de Mim, inspirada parceria de Sérgio Magrão e Luis Carlos Sá, o qual já tinha recebido Flávio Venturini pré-Terço em seu trio com Rodrix e Guarabira (mais uma prova de minha teoria de imãs se atraindo).
Em 1981, o 14 Bis lançou Espelho das Águas, um disco do qual participei desde o conceito inicial. Com Vermelho, Flávio e Hely criei 3 novas canções, No Meio da Cidade, Dança do Tempo e Vale do Pavão.
Mais uma vez, o grande estouro veio de outro presente da dupla Nascimento e Brant, padrinhos carinhosos de seus amigos roqueiros. Desta feita deram-lhes a inédita e insuperável Nos Bailes da Vida. Foi assim que o 14 Bis imortalizou esses versos que se tornaram ditado popular:
Com a roupa encharcada, a alma
Repleta de chão
Todo artista tem de ir aonde o povo está
Se foi assim, assim será
Cantando me disfarço e não me canso
De viver nem de cantar
Em 1982, eu, Vermelho e Flávio compusemos Além Paraíso que deu título ao disco que o 14 Bis gravou naquele ano.
Nosso querido amigo e parceiro Murilo Antunes, outro frequente fornecedor de poesia para os trabalhos do 14 Bis, compareceu com Passeio Pelo Interior e ainda compôs com Flávio e Vermelho a definitiva Uma Velha Canção Rock’ n Roll.
Em 1983, eles lançaram A Idade da Luz e eu compus com Vermelho a nossa Nave de Prata (“tenho meu coração preparado pra flutuar…”) que voou junto com o 14 Bis.
Mas, sem dúvida, o estrondoso sucesso desde disco foi Todo Azul do Mar. Todo mundo conhece esses soberbos versos de Ronaldo Bastos, sobre o delicado tema de Flávio Venturini. Uma das mais espetaculares canções jamais criadas.
Em menos de 4 anos, 5 discos antológicos.
Depois eles continuaram a viagem abrindo o leque para novas parcerias, como por exemplo em A Nave Vai, de 1985, em que brilham os versos do poeta Chacal, não por acaso antigo participante do coletivo de poetas chamado Nuvem Cigana, em que figurava com destaque junto com Ronaldo Bastos, Ronaldo Santos e Bernardo Vilhena.
Nesses tempos eu fui morar na França e fiquei um ano sem participar dos trabalhos do 14 Bis. Nesse período Flávio saiu do grupo para enveredar em sua bem-sucedida carreira solo.
O disco Sete é o último disco de canções inéditas gravado com a formação original da banda. A parceria com Renato Russo em Mais uma Vez foi o grande hit desse trabalho.
Naquele mesmo ano de 1987, eles gravaram seu primeiro disco ao vivo e ai novamente nossos sucessos anteriores pontificaram, quando lançados no ano seguinte.
O décimo disco, Siga o Sol, de 1996, é também o primeiro gravado e mixado fora do Brasil. Regravaram Faça Seu Jogo, minha e do meu irmão Lô, relíquia do disco do tênis e, além desta, gravaram duas outras canções de minha autoria, Outra Estrada e As Contas do Amor.
Em 2004, o 14 Bis gravou o disco Outros Planos. Para ele, eu, Lô e Vermelho criamos uma canção muito linda chamada Sete Raios de Cristal.
Este é o resumo do meu trabalho com o 14 Bis que eu tenho para mostrar. Mas sinto que ainda não é tudo. Em suma, continuamos amigos e na ativa até hoje. Então, temos canções novas engatilhadas. Enquanto isso, vou cultivando meu grande orgulho de ter escrito para eles cantarem frases e versos que continuo assinando embaixo com força e fé.